quinta-feira, 31 de março de 2011
A janela
A janela da Manuela
dava p'ra uma viela
e do que ela mais gostava
era pôr-se a embaciar
os vidros à sua frente
e começar a ver gente
bem diferente do que via na viela
quando o vidro estava limpo.
Depois fazia desenhos
nos vidros embaciados
alguns parecidos com galos
girafas ou girassóis
outros com cisnes ou gatos
pinheiros e caracóis.
Mas num dia bem estranho
quando ao fazer o desenho
duma elegante gazela
vai o desenho fugiu
com a gazela lá dentro!
E a Manuela ficou
a rir-se toda contente
sozinha à sua janela
a ver por cima das casas
como voa uma gazela
quando alguém amigo dela
lhe oferece tão lindas asas.
poema de Eduardo Valente da Fonseca
e ilustração de Armanda Duarte
em Cães, pedras, paus e gazelas
terça-feira, 29 de março de 2011
Para a Sara e para a Sofia
AMOR
Mãe, as flores adormecem
Quando se põe o sol!
Filha, para as adormecer
Canta o rouxinol...
Mãe, as flores acordam
Quando nasce o dia!
Filha, para as acordar
Canta a cotovia...
Mãe, gostava tanto de ser flor!
Filha, eu então seria uma ave...
poema de Matilde Rosa Araújo
e ilustração de Madalena Matoso
em O livro da Tila
domingo, 27 de março de 2011
Insecto
sábado, 26 de março de 2011
Praia
terça-feira, 22 de março de 2011
O búzio
Pus um búzio da praia
na concha do meu ouvido.
Logo ouvi o mar chamar
muito longe, num gemido.
Ó mar,Ó mar...
Peguei num búzio das águas,
pousado ali na areia.
Ele guardava a canção
secreta duma sereia.
Ó mar,Ó mar...
É só um búzio das ondas,
todos o julgam vazio.
Mas eu viajo lá dentro
num sonho feito navio.
Ó mar,Ó mar...
poema de Luísa Ducla Soares
em Poemas da mentira e da verdade
ilustração de Lisbeth Zwerger
segunda-feira, 21 de março de 2011
Cavalo
A mãe contava-me a história do cavalo voador. As suas
asas eram enormes e leves, como a luz da manhã.
Um dia, eu pedi:
Mãe, dá-me um cavalo assim!
E como o vais alimentar? Os cavalos voadores precisam de muito penso!
Levo-o pelos campos, pelos prados. Pelos montes floridos.
Filho, o nosso cavalo não come:bebe o brilho das estrelas.
Ainda melhor, mãe. O céu é uma copa de árvore iluminada de estrelas!
Mas à noite, meu filho, tu estás a dormir.
Ainda melhor, mãe. Assim posso galopar por dentro dos sonhos.
poema de Francisco Duarte Mangas
em O noitibó, a gralha e outros bichos
ilustração de Sara Fanelli
domingo, 20 de março de 2011
As pedras
As pedras falam? Pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.
Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?
As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.
Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como aves
e nem mais tarde regressam.
Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.
Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.
As pedras falam? Pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
uma coisa para dizer.
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.
Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?
As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.
Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como aves
e nem mais tarde regressam.
Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.
Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.
As pedras falam? Pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
uma coisa para dizer.
poema de Maria Alberta Menéres
ilustração de Danuta Wojciechowska
em O meu primeiro álbum de poesia
sexta-feira, 18 de março de 2011
Uma perfeição de cão
Conheci um cão
Que falava
Que escutava
Que cantava
Que brincava
Que ladrava
Que fazia o pino
E que era um grande dançarino.
Que jogava à bola
Que perdia
Que ganhava.
Que estudava
E que andava
Comigo na escola.
E que tal?
Era ou não
Uma perfeição de cão?
Não acreditam?
Fazem mal.
Era um cão
De imaginação...
poema de Maria Cândida Mendonça
em O livro de faz-de-conta
ilustração de Louise-MarieCumont
Que falava
Que escutava
Que cantava
Que brincava
Que ladrava
Que fazia o pino
E que era um grande dançarino.
Que jogava à bola
Que perdia
Que ganhava.
Que estudava
E que andava
Comigo na escola.
E que tal?
Era ou não
Uma perfeição de cão?
Não acreditam?
Fazem mal.
Era um cão
De imaginação...
poema de Maria Cândida Mendonça
em O livro de faz-de-conta
ilustração de Louise-MarieCumont
segunda-feira, 14 de março de 2011
O aviador interior
O ar não se vê
não se sente não se ouve
mas quanto mais se sobe
mais não sei quê
E quando se sobe
sem sair do chão?
quando a cabeça se move
e o resto do corpo não?
A cabeça subindo
pelo lado de dentro
e o teu pensamento
tão limpo e tão lindo
Tão maravilhoso
como o dum matemático
tão rigoroso
como o dum mágico
Embora às vezes não pareça
embora te digam que não
tens um campo de aviação
dentro da tua cabeça.
poema de Manuel António Pina
não se sente não se ouve
mas quanto mais se sobe
mais não sei quê
E quando se sobe
sem sair do chão?
quando a cabeça se move
e o resto do corpo não?
A cabeça subindo
pelo lado de dentro
e o teu pensamento
tão limpo e tão lindo
Tão maravilhoso
como o dum matemático
tão rigoroso
como o dum mágico
Embora às vezes não pareça
embora te digam que não
tens um campo de aviação
dentro da tua cabeça.
poema de Manuel António Pina
em O pássaro da cabeça
ilustração de Sara Fanelli
quinta-feira, 10 de março de 2011
sábado, 5 de março de 2011
quinta-feira, 3 de março de 2011
Andorinha
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