sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Melro


Monge solitário.
Na primavera
desafia as chuvas
escondido na brancura
das cerejeiras.



poema de Francisco Duarte Mangas
in O noitibó, a gralha e outros bichos


ilustração de Anne Herbauts
in Les moindres petites choses

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O voo dele

Ele queria voar.
Como?
Ainda não sabia.
Não tinha asas
mas acreditava
poder levantar voo
e preparava
esse aguardado dia.

Ele era pesado,
comprido
e entroncado.
Mesmo assim,
conseguiu, certa vez,
subir e trepar
para o telhado.

Atirou-se
mas teve o cuidado
de espalhar colchões
por todo o lado.
Imitou as aves,
esbracejou, planou,
fechou os olhos
e não é que voou!

Voou na sua imaginação
voou na sua emoção
voou do telhado até ao chão.
E em cima do colchão
continuou de olhos fechados
a flutuar
com os braços
a abanar no ar.



poema de Ana Ramalhete

ilustração de Pablo Auladell

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ladainha da aranha

Aranha, anha,
Tão muda e mole:
Teu fio de Lua
Soluça ao Sol.

Aranha, anha,
Que ninguém ama:
Teu fio de Lua
É a tua cama.

Aranha, anha,
De noite e dia
Teu fio de Lua
Ninguém o fia.

Aranha, anha,
Que o mundo mata:
Teu fio de lua
Ninguém desata.



poema de Matilde Rosa Araújo
in O livro da Tila


ilustração de Eric Carle

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O gato de pêlo em pé


Chegou vagabundo à borda
do poço e bem lá no fundo
nos lampejos da água turva

viu as suas sete vidas
reflectidas.



poema de Violeta Figueiredo
in O gato de pêlo em pé

ilustração de Teresa Lima
in Cá de cima lá de baixo

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sul


Indicas-me sempre
os caminhos do mar.

Ensina-me, sol,
os caminhos do sul.




poema de João Pedro Mésseder e
Francisco Duarte Mangas

in Breviário do sol

ilustração de Jjimmy Liao

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Canção infantil

Era um amieiro.
Depois uma azenha.
E junto
um ribeiro.

Tudo tão parado.
Que devia fazer?
Meti tudo no bolso
para os não perder.



poema de Eugénio de Andrade

ilustração de Elena Odriozola