terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Todos no sofá

Estão dez amigos
todos num sofá.
Mas tão apertados
que nem cabem lá.

O rato guloso
salta do sofá.
São nove os amigos
que ainda estão lá.

O coelho manso
salta do sofá.
são oito os amigos
que ainda estão lá.

O gato tigrado
salta do sofá.
São sete os amigos
que ainda estão lá.

O pato marreco
salta do sofá.
São seis os amigos
que ainda estão lá.

O porco roncando
salta do sofá.
São cinco os amigos
que ainda estão lá.

O burro aos coices
salta do sofá.
São quatro os amigos
que ainda estão lá.

A vaca leiteira
salta do sofá.
São três os amigos
que ainda estão lá.

A alta girafa
salta do sofá.
São dois os amigos
que ainda estão lá.

O grande elefante
salta do sofá.
Já só um amigo
ainda lá está.

João Preguição
fica no sofá.
Deita-se a dormir
e não sai de lá.




Poema de Luísa Ducla Soares
in Todos no sofá
Ilustração de Violeta Lopiz

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Avó Loba


Sol de outono, sol de sono,
corre o dia mais cinzento.
Parada à beira da gruta,
Avó Loba escuta o vento
e adivinha já a neve
que cairá muito em breve.



Poema de Violeta Figueiredo
in O gato de pêlo em pé
Ilustração de Teresa Lima
in Os sete cabritinhos

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Havia um menino

Havia um menino
que tinha um chapéu
para pôr na cabeça
por causa do sol.

Em vez de um gatinho
tinha um caracol.
Tinha o caracol
dentro de um chapéu;
fazia-lhe cócegas
no alto da cabeça.

Por isso ele andava
depressa, depressa
para ver se chegava
a casa e tirava
o tal caracol
do chapéu, saindo
de lá e caindo
o tal caracol.

Mas era, afinal,
impossível tal,
nem fazia mal
nem vê-lo, nem tê-lo:
porque o caracol
era do cabelo.




Poema de Fernando Pessoa
Ilustração de Toshiyuki Fukuda

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Basta imaginar


Basta imaginar,
um pássaro para o aprisionar,
e depois imaginar o ar para o libertar
e imaginar asas para ele voar
e imaginar uma canção para ele cantar.



Poema de Manuel António Pina
in O pássaro da cabeça
Iilustração de Isabelle Arsenault

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Rifão quotidiano

Uma nêspera
Estava na cama
Deitada
Muito calada
A ver
O que acontecia

Chegou uma Velha
E disse
Olha uma nêspera
E zás comeu-a

É o que acontece
Às nêsperas
Que ficam deitadas
Caladas
A esperar
O que acontece.



Poema de Mário Henrique Leiria
in Novos contos do gin
Ilustração de Morteza Zahedi